Reinaldo

Doria oferece quatro presídios à iniciativa privada, para gestão compartilhada

A entrega de dez novas unidades prisionais pelo governo paulista, ainda neste ano, deve reduzir em quase 10% o déficit de vagas no estado e dar início a uma era de privatizações no sistema carcerário de São Paulo. Serão 8.323 novas vagas divididas em 9 CDPs (centro de detenção provisória) e uma penitenciária feminina. O déficit atual é de 89.196 vagas.
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As quatro primeiras unidades oferecidas à iniciativa privada fazem parte desse lote de CDPs, construídos pelo estado, que devem funcionar em esquema de gestão compartilhada —parte de funcionários do estado e (maior) parte de empresas contratadas.

AINDA ESTE ANO – São todos em cidades distantes da capital e, segundo estimativa do governo, devem estar funcionando até o final de outubro deste ano. São duas em Gália (a 393 km de SP) e as outras em Aguaí (a 193 km) e Registro (a 188 km). Elas têm capacidade para 823 pessoas.

Segundo a Administração Penitenciária, cinco empresas demonstraram interesse e já prestam esses serviços em Minas Gerais e Santa Catarina. Por esse modelo, dos 160 trabalhadores previstos para o funcionamento de presídios desse porte, 12% (19) serão dos quadros da Secretaria da Administração Penitenciária, e ocuparão funções como diretor-geral e de disciplina.

A segurança das muralhadas e o transporte de presos serão feitos apenas por funcionários do estado.

CUSTO ESTIMADO – O prazo de contrato será de cinco anos, com custo mensal estimado entre R$ 3.800 e R$ 5.500 por interno. Os valores dependem do pacote de serviços que a unidade exigir.

“Vai depender da quantidade de serviços que o estado vai querer conceder. Se quiser só alimentação, por exemplo, vai ser mais barato. Mas se quiser alimentação, médico, dentistas, psicólogo, roupa, aí o preço é outro”, diz o secretário da Administração Penitenciária de SP, Nivaldo Restivo. Pelo modelo estatal, um preso custa cerca de R$ 2.400 ao mês, segundo o governo, mas o valor não inclui gastos previdenciários com os agentes.

MODELO ERRADO – O especialista em segurança pública Luís Sapori, que estudou o sistema de privatização de Minas Gerais (um dos estudados por São Paulo), disse considerar a privatização uma “saída interessante”, mas não o modelo lançado por Doria .

“Aí é quase que uma terceirização dos serviços. Confesso que não gosto desse modelo, que tende ser muito mais movido pelos fins lucrativos. Já o modelo PPP [parceria público-privada] envolve um tipo de relação entre público e privado em outros moldes, na qual o ganho econômico fica restrito ao cumprimento de metas e ao interesse público.”

O especialista disse preferir outro modelo de concessão, em PPP, que ainda está em estudo pelo governo paulista. Nessa modalidade, as unidades são construídas pela iniciativa privada e as concessões têm prazos de 35 anos. O edital para esse tipo deve ser publicado só em 2020.

Dessa forma, a gestão Doria pretende construir ao menos três complexos prisionais com quatro a cinco presídios cada um. Dois terrenos estão sendo analisados para isso, ambos na Grande SP.

É UMA OPÇÃO – Para o diretor presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sério de Lima, diante de crise fiscal que assola os estados brasileiros, a parceria com as empresas privadas é uma opção —mas há cuidados a serem tomados. “Precisamos aproveitar o que é positivo, mas que não acabe consolidando uma situação a tal ponto de torná-la irreversível, porque vai desequilibrar o contrato.”

“Os EUA criaram um problema quando privatizaram tudo, porque se criou um mercado, hoje você tem que manter uma população grande. O próprio Trump reconheceu que não dá para manter 2,2 milhões de presos.”

Os EUA têm a maior população prisional do mundo e a maior de encarceramento com 655 prisioneiros por 100 mil habitantes. No Brasil, esse número é de 324 por 100 mil.
Rogério Pagnan/ Folha


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Questão Brasil - 09/04/2019

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