Reinaldo

Após criticar classe política, Bolsonaro foi orientado a dar guinada no discurso

Com dificuldades para reorganizar a frágil articulação com o Legislativo para a aprovação de projetos prioritários do governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) acirrou o desgaste entre os Poderes ao dizer que “o grande problema do Brasil é a classe política”, mas foi orientado a baixar o tom e deu uma guinada no discurso no mesmo dia, fazendo um aceno para valorizar o Congresso.
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Em evento na Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), o presidente repetiu conceitos da mensagem que compartilhou na sexta (17), segundo a qual o país “é ingovernável” sem “conchavos” que ele se recusa a fazer.

GRANDE PROBLEMA – “O Brasil é um país maravilhoso, que tem tudo para dar certo. Mas o grande problema é a nossa classe política”, disse ele, que se incluiu na crítica e pediu apoio do governador e do prefeito do Rio, Wilson Witzel (PSC) e Marcelo Crivella (PRB), respectivamente. “Nós temos que mudar isso.”

Em reunião no final da tarde desta segunda (20), o presidente recebeu um diagnóstico do núcleo moderado do Palácio do Planalto de que suas declarações elevaram a tensão e agravaram o risco a pautas governistas, como a medida provisória que reestrutura a Esplanada dos Ministérios e a reforma da Previdência.

A conversa teve efeito imediato. Em seguida, em evento de lançamento da campanha da Previdência, Bolsonaro indicou a guinada de seu discurso.

VALORIZAÇÃO – “Temos cinco deputados federais [no governo]. Nós valorizamos, sim, o Parlamento brasileiro, que vai ser quem vai dar palavra final nesta questão da Previdência, tão rejeitada nos últimos anos”, disse.

Na mesma cerimônia, o presidente agradeceu nominalmente os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Ele disse que gostaria de receber mais os parlamentares, mas citou a falta de agenda. “Só não recebo mais por falta de agenda, mas gostaria de continuar a conversar com o maior número possível de vocês”, afirmou.

Nesta semana, Bolsonaro precisa de votos no Congresso para aprovar 11 medidas provisórias prestes a expirar —a maioria com relevante impacto econômico e na estrutura administrativa do governo.

APOIO POPULAR – Em outra frente, após ser alvo de protestos pelo país devido ao bloqueio de verbas da Educação, o presidente tentará mostrar que mantém o apoio popular conquistado nas urnas —está marcada para domingo (26) uma série de atos em defesa de sua gestão.

“Cada vez que eu toco o dedo numa ferida, um exército de pessoas influentes se vira contra mim, buscam de todas as maneiras me desacreditar”, afirmou ele no evento no Rio, conclamando os presentes a pressionar parlamentares a votar propostas do governo.

“Nós temos uma oportunidade ímpar de mudar o Brasil. Mas não vou ser eu sozinho —apesar de meu nome ser Messias— que vou conseguir”, disse Bolsonaro, negando crise entre Poderes e atribuindo esse tipo de informação a “uma grande fofoca” de “grande parte da nossa mídia”.

INDISPOSIÇÃO – As críticas do presidente à classe política criaram indisposição no Congresso, apesar de ele já ter feito outros acenos recentes aos partidos — como a sanção de um projeto que prevê anistia a multas aplicadas às legendas.

Insatisfeitos, líderes partidários reclamaram à Casa Civil de que a conduta de Bolsonaro inviabilizava a votação nesta semana da MP (medida provisória) sobre a estrutura de ministérios de seu governo. Se ela não for aprovada até 3 de junho na Câmara e no Senado, perderá a validade. Nesse caso, o número de pastas passaria de 22 para 29, como era na gestão de Michel Temer.

“Eu acho que o presidente está tensionando o Congresso sem necessidade. Eu vejo que, a cada declaração, ele vai tensionando ainda mais”, reclamou o líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO).

BUSCAR OS LÍDERES – Na reunião com o núcleo moderado, o presidente foi aconselhado a procurar líderes partidários, inclusive do Centrão (grupo informal de partidos como DEM, PSD, PTB, PP e PR), para esclarecer as declarações.

A proposta da articulação política do governo, a que inclui ministros e parlamentares, é realizar um café da manhã para acalmar os ânimos.

Em outra frente, também há um esforço para convencer o presidente a substituir o líder do governo da Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO). Bolsonaro tem oferecido resistência e diz que não costuma abandonar os aliados mais fiéis. Uma das soluções seria realocá-lo em outro cargo do governo.

ENFRENTAMENTO – A avaliação no Palácio do Planalto, no entanto, é a de que o gesto de Bolsonaro será em vão caso o PSL, seu partido, insista no enfrentamento com o Centrão na Câmara. Nos últimos dias, parlamentares da sigla têm atacado deputados nas redes sociais.

“O que tem de acontecer é uma boa conversa e baixar a guarda. Chega de clima beligerante. Não se consegue aliados atacando pessoas. Nós não vamos conseguir aliados atacando aqueles que podem votar conosco”, afirmou a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP).

A bancada do PSL, porém, indicou nesta segunda que não vai baixar a guarda. Os deputados do partido de Bolsonaro pretendem apresentar ao menos cinco requerimentos para tentar derrubar as alterações feitas pelo Congresso na medida provisória que reestrutura o governo —o que pode inviabilizar a votação do texto.

CONCILIAÇÃO – O discurso do presidente no Palácio do Planalto foi precedido pelo do chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social), Fábio Wajngarten, que adotou linha semelhante de conciliação, mas dessa vez com veículos de comunicação.

O secretário afirmou que “é um equivoco quem acredita no fim das mídias consideradas tradicionais” e disse que todos os brasileiros só serão atingidos pela campanha da reforma da Previdência se a comunicação for plural.

“O maior antídoto contra as fake news é, sem dúvida nenhuma, lutar por uma mídia responsável, sustentável e livre de qualquer controle. E isso se faz valorizando os bons meios, os bons veículos e a boa comunicação”, disse Wajngarten, que agradeceu a presença de executivos de emissoras televisivas como Rede Globo, TV Bandeirantes, RedeTV! e SBT.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Cada vez que o presidente abre a boca, é um desastre. Quando fica calado, é um poeta, como diria o senador Romário. E assim la nave va, cada vez mais fellinianamente. (C.N.)
Deu na Folha


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Questão Brasil - 09/04/2019

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