Meryl Streep surpreende agora pelo mérito na guitarra
A atriz brinda-nos com mais uma singular interpretação. Ricki é a líder de uma banda de rock, mas não alcança distinção
Numa entrevista para a revista Time, em julho de 2014, por ocasião dos 30 anos de Stop Making Sense, Jonathan Demme declarava: "Eu adoro cinema e adoro música. Muitas vezes tenho a sensação de que filmar música é, de algum modo, a forma mais pura de fazer cinema." Nada poderia soar mais coerente no cineasta que provou, com esse filme-concerto dos Talking Heads, ter uma habilidade particular para captar a energia daperformance em palco. É mais do que saber filmar, é saber ouvir com o olhar.
Da mesma maneira que Stop Making Sense foi uma genuína confluência de forças artísticas entre o realizador e o vocalista David Byrne, Ricki e os Flash lembra-nos essa dupla densidade, de quem está à frente e atrás da câmara - Meryl Streep e Jonathan Demme. Já sabíamos que, entre as suas múltiplas aptidões, a atriz sabe cantar, o que surpreende agora é o mérito na guitarra, uma aprendizagem motivada pelo filme.
Com efeito, não escapa nada à composição da personagem: uma roqueira sexagenária que no passado trocou a monotonia das obrigações familiares por uma vida sustentada de acordes. Mas esses acordes não alimentam senão o espírito - o que põe a comida na mesa são os part-time em supermercados e bares.
Ricki é o seu nome de "estrela" (Linda, o de nascimento), e os Flash são os "rapazes" que a acompanham como banda residente num bar da Califórnia - o músico Rick Springfield dá aqui um especial contributo de profissionalismo. Tocam-se grandes covers (de Tom Petty a Bruce Springsteen), mas também se procura agradar à nova geração, com Lady Gaga e Pink. Demme domina como ninguém estas ocasiões musicais, dando verdadeiras lições de palco pela justeza da câmara.
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