Reinaldo

A esfinge da informação agora vive sob o desafio da humildade e da solidariedade

A escassez de informações pode ser angustiante. Em mapas antigos, em meio a grandes espaços vazios, estava escrito: “Hic sunt leones” (Aqui há leões). Em nossos dias, o desafio é diferente: o excesso de informações. É tanta informação que ficamos desorientados e nossa comunicação com os outros fica comprometida. Diante de um fluxo violento de dados não é tão simples decifrar o que é verdadeiro e o que é falso, o que é útil e o que é vão. Cada nova informação se apresenta como a esfinge: “decifra-me ou te devoro”. Como discernir as informações que são despejadas sobre nós?
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O bombardeio de informações gera gente mais preocupada em se defender do que em se relacionar. É como disse Jean-Paul Jacob anos atrás: “No futuro o homem vai falar com as paredes. E, o pior, elas irão entendê-lo”. Desse modo, nossas discussões se tornam cada vez mais “inumanas”.

ALIENAÇÕES – A incapacidade de decifrar a informação nos leva a compartilhar mentiras, perder tempo em discussões com programas de inteligência artificial, mergulharmos em nossas próprias bolhas sociais alienantes. Ficamos acomodados em um ativismo de hashtag muito distante das dores, alegrias, desejos e necessidades dos seres humanos reais.

Por isso, este deveria ser um critério elementar no nosso cotidiano: a humanização. Isto é, trazer um ajuste mais solidário à nossa recepção de informações e às nossas comunicações interpessoais. Não vivemos sem comunicação, tampouco sem ressonância, sem outras pessoas que nos valorizem em algum grau, confirmem a nossa importância, comuniquem seu apreço por nós.

Pois se ninguém nos reconhece, também se extingue o nosso sentimento de valor próprio, cessa em nós o sentimento de pertença e solidariedade. Relutamos tanto em admitir o nosso fracasso, justamente porque temos medo de não sermos mais acolhidos. Tememos que ninguém mais vá gostar de nós.

SOLIDARIEDADE – Ou seja, na era da sobrecarga de informações é vital termos em mente pontos elementares da solidariedade humana: compartilhamos de uma mesma natureza, coabitamos no mesmo planeta, é razoável que cooperemos. Aliás, o problema não é a briga, o debate, a confusão. Nada mais humano do que insultar ou elogiar, combater ou reconciliar, rir ou chorar.

O problema é a negação e a renúncia na vida contemporânea ao próprio convívio com os outros seres humanos. O smartphone é a nova torre de marfim. A julgar não apenas pela segregação urbana das metrópoles, mas pelo próprio debate público brasileiro, fica claro que não estamos empoderados, mas emparedados. A real potência da cidadania está na resolução dos problemas sociais.

HUMANIZAÇÃO –  Portanto, um critério elementar ao julgamos as informações é o critério da humanização. Sejamos mais generosos em entender o outro, mais prudentes antes de passar mensagens para frente, menos afoitos em julgar a vida inteira de alguém por uma mensagem sem a devida credibilidade. Atos simples de solidariedade humana rompem o círculo de solidão em que muitas vezes ficamos presos.

Assim como Édipo decifrou o enigma e derrotou a esfinge de Tebas, derrotaremos a esfinge da informação com a célebre resposta: “o ser humano”. Precisamos responder aos atuais desafios com mais solidariedade humana. E não custa lembrar que o vocábulo “humus” (solo, terra) é a raiz latina tanto da palavra “homem” como de outro termo urgente: “humildade”.
Davi Lago/ Blog do Matheus Leitão


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Questão Brasil - 09/04/2019

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