Reinaldo

Lenda dos palcos, atriz e cantora Bibi Ferreira, diva dos musicais brasileiros, morre aos 96 anos

Atriz, diretora, cantora, compositora e apresentadora morreu em seu apartamento, no Rio. Filha de Procópio Ferreira, artista brilhou por décadas no teatro e nas telas. 
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Abigail Izquierdo Ferreira nasceu em 1º de julho de 1922. Filha de um dos maiores nomes das artes cênicas do Brasil, o ator Procópio Ferreira (1888-1979), e da bailarina espanhola Aída Izquierdo, Bibi – apelido que ganhou ainda na infância – estreou nos palcos com pouco mais de 20 dias de vida.
A atriz e cantora Bibi Ferreira, diva dos musicais brasileiros, morreu nesta quarta-feira (13), aos 96 anos, no Rio. Também apresentadora, diretora e compositora, ela foi um dos maiores fenômenos artísticos do país.
Segundo Tina Ferreira, filha única de Bibi, a artista morreu no início da tarde em seu apartamento no Flamengo, Zona Sul do Rio. A atriz acordou e a enfermeira que a acompanhava percebeu que o batimento cardíaco estava baixo e, por isso, chamou um médico. Tina acredita que a mãe morreu dormindo.
"Ela amanheceu normal, acordou tomou seu café da manhã e tudo. Depois ela só se queixou que estava se sentindo um pouco com falta de ar. Então como tem enfermeira, tem tudo, tiramos a pressão, o pulso estava fraco. Imediatamente chamamos o Pró-Cardíaco. Eles vieram muito rápido, muito rápido mesmo, ambulância, médico, tudo, mas quando chegaram ela já tinha partido. Ela morreu dormindo, tranquila", explicou Tina.
A Secretaria Municipal de Cultura informou que o velório vai ser no Teatro Municipal do Rio. O corpo de Bibi deve ser cremado. 

Artista multimídia, Bibi ao longo da carreira fez filmes, apresentou programas de TV, gravou discos e dirigiu shows. Tudo sem nunca abandonar o teatro, uma grande paixão. 

Bibi Ferreira
Também foi enredo da Viradouro no Carnaval do Rio em 2003. Recentemente, teve a vida e obra contadas no espetáculo "Bibi, uma vida em musical", escrito por Artur Xexéo e Luanna Guimarães, com direção de Tadeu Aguiar. 

Na montagem, a protagonista foi interpretada por Amanda Costa.

Em março de 2018, já aos 95 anos, Bibi foi assistir a uma apresentação do musical, então em cartaz em um teatro no Rio e fez o público se emocionar ao chorar cantando, da plateia e sem microfone, uma música de Edith Piaf (1915-1963).


A própria Bibi interpretou a cantora francesa com maestria em um musical de enorme sucesso no Brasil e em Portugal. O trabalho minucioso foi considerado tão perfeito que mesmo pessoas que conheceram Piaf se espantaram com o nível de semelhança.



Com o espetáculo, Bibi conquistou os principais prêmios do teatro nacional, como Molière, Mambembe, Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), Governador do Estado e Pirandello. Foram apenas alguns dos muitos prêmios que colecionou ao longo das décadas de carreira.



TV



Em 1960, Bibi inaugurou a TV Excelsior com o programa ao vivo "Brasil 60", que levou à TV os maiores nomes do teatro. A atração mudaria de nome nos anos seguintes ("Brasil 61", depois "Brasil 62" e assim por diante).

Na mesma emissora, também apresentou o programa "Bibi sempre aos domingos". Em 1968, estrelou o musical "Bibi ao vivo" – com direção de Eduardo Sidney, o programa era transmitido do auditório da Urca.



Musicais



Ainda nos anos 1960, Bibi estrelou outros dois dos musicais mais marcantes de sua carreira. O primeiro foi "Minha querida dama" ("My fair lady"), de Frederich Loewe e Alan Jay Lerner, adaptação de "Pigmaleão", de George Bernard Shaw. No espetáculo, atuou ao lado de Paulo Autran (1922-2007) e Jaime Costa (1897-1967).

O outro trabalho marcante foi "Alô, Dolly!" (Hello, Dolly!), versão da obra "The matcmaker", de Thornton Wilder, com Hilton Prado e Lísia Demoro.

Já na década de 1970, Bibi foi o principal nome de "O homem de La Mancha", musical de Dale Wasserman dirigido por Flávio Rangel e com letras adaptadas para o português por Chico Buarque.

A artista deixou ainda seu nome marcado na casa de shows Canecão, no Rio, ao dirigir o espetáculo "Brasileiro, profissão esperança", de Paulo Pontes e Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), produção inspirada na obra do compositor Antonio Maria.

No início, o show foi concebido em escala menor para ser apresentado em boates, com Ítalo Rossi e Maria Bethânia nos papéis centrais. Mas depois o musical foi reformulado e ampliado. Passou, então, a ser protagonizado por Paulo Gracindo e Clara Nunes, transformando-se em um dos maiores sucessos da história do Canecão.

Em 1975, Bibi recebeu o Prêmio Molière pela interpretação da personagem Joana, de "Gota d’água", de Paulo Pontes e Chico Buarque, montagem que ambientava a tragédia "Medeia", de Eurípedes, em um morro carioca.



Amália



No início dos anos 2000, Bibi Ferreira fez mais um trabalho impressionante ao interpretar a fadista Amália Rodrigues (1920-1999) no espetáculo "Bibi vive Amália".

Em seguida, Bibi apresentou dois recitais, "Bibi in concert" e "Bibi in concert pop", nos quais se apresentou acompanhada por orquestra e coral.



Vida reservada



Admirada pelo público e adorada e respeitada pelos colegas, Bibi sempre manteve uma rotina discreta, evitando a exposição de detalhes de sua vida pessoal – raras eram suas aparições em eventos sociais.

Segundo amigos mais próximos, quando estava fora dos palcos, Bibi preferia passar o tempo em seu apartamento no Flamengo. Teve vários casamentos e apenas uma filha, Teresa Cristina.

Segundo o empresário da atriz, Nilson Raman, Bibi reclamou de falta de ar e, no momento seguinte, já não respirava. “A gente sabia que, em algum momento, isso chegaria, porque faz parte do jogo. A saudade existirá sempre, mas talvez a qualidade de vida que Bibi tivesse ali não fosse a melhor do mundo para ela também. Às vezes, a gente, de forma egoísta, se prende muito em querer a pessoa sempre ali, mas tem que entender se a pessoa está bem naquilo que está vivendo”, disse Raman à Agência Brasil .

O empresário lembrou que, em nota divulgada em setembro do ano passado, Bibi comunicou sua saída da vida pública. Em seu perfil em uma rede social, Bibi, que era chamda de grande dama do teatro escreveu: "Nunca pensei em parar, essa palavra nunca fez parte do meu vocabulário, mas entender a vida é ser inteligente. Fui muito feliz com minha carreira. Me orgulho muito de tudo que fiz. Obrigada a todos que de alguma forma estiveram comigo, a todos que me assistiram, a todos que me acompanharam por anos e anos. Muito obrigada! Bibi”.

Por G1 Rio
Bibi Ferreira, diva dos musicais brasileiros, morre aos 96 anos | Rio de Janeiro | G1

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Questão Brasil - 09/04/2019

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