Reinaldo

O poço parece ser ainda mais fundo: Brasil vira 'junk', diz The Economist

O mistério, segundo revista, é porque o rebaixamento ao status 'lixo' não aconteceu antes

A revista The Economist publicou esta semana um artigo em que comenta o rebaixamento do Brasil, feito pela agência Standard & Poor's.Quando Dilma Rousseff apresentou um orçamento com um déficit primário de 0,5% do PIB na semana passada, muitos entraram em desespero (inclusive esta revista). Era só uma questão de tempo, os preocupados alertaram, antes que essa incontinência fiscal custaria ao Brasil seu tão celebrado grau de investimento. 

Poucos esperavam que os avaliadores iriam reagir tão rapidamente. No dia 9 de setembro a Standard & Poor, que tinha sido a primeira agência a conceder o grau de investimento ao Brasil 2008, foi também a primeira a rebaixar a dívida do governo em moeda estrangeira do país de volta ao grau especulativo. A S&P manteve o Brasil sob vigilância negativa, dizendo que ele tem uma chance em três de afundar cada vez mais no território especulativo.

Em certa medida, a decisão da S&P já tinha sido anunciada. Durante meses, o custo de garantir os títulos do governo brasileiro contra o default foi maior do que no caso dos turcos, que são classificados como ‘lixo’. Após o anúncio do orçamento da semana passada o real caiu 6% frente ao dólar.

No momento em que o artigo da Economist ia ser impresso, os mercados estavam, no entanto, se preparando para uma quinta-feira nervosa (a S&P se movimentou depois de terem fechado na noite anterior). No comércio after-hours em Nova York, a cesta de ações brasileiras perdeu 4%; a Petrobras viu suas ações americanas listadas cair em 5%. Outra dica que nem tudo foi fixado, observa Alberto Ramos, do banco de investimento Goldman Sachs, foram os 200 e-mails ansiosos que inundaram sua caixa de entrada uma hora após o anúncio da S&P.

Alguma fuga de capital é inevitável. Fundos de pensão e de investimento que só podem deter ativos com grau de investimento vão agora descarregar títulos do governo brasileiro em um ritmo mais acelerado, prevendo rebaixamentos similares dados pelas agências Moody e Fitch (normalmente, duas das três grandes agências de classificação precisam declarar o grau especulativo para forçar o desinvestimento). 

Isso não vai paralisar o Brasil de hoje, com sua economia diversificada e reservas cambiais robustas, como poderia ter feito em dias mais caóticos. Mas os custos de empréstimos já elevados do governo vão subir ainda mais, aumentando o risco de outro rebaixamento. O capital também se tornará mais caro para as empresas. Nenhum destes vai ajudar a sacudir a recessão na qual o Brasil caiu no segundo trimestre. 

Isso não vai quebrar o Brasil de hoje, com sua economia diversificada e grandes reservas internacionais, como poderia ter quebrado em dias mais caóticos. Mas o governo já tem custos altos para empréstimos, e isso deve aumentar ainda mais, elevando o risco de um novo rebaixamento. O capital também vai ficar mais caro para empresas. Nada disso vai ajudar o Brasil a se livrar da recessão em que entrou no segundo trimestre deste ano.

Como os políticos vão reagir está menos claro. O rebaixamento é certamente um tapa na cara para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ex-banqueiro ortodoxo de investimento trazido no ano passado, principalmente para evitar isso. Para ser justo, muitas das suas medidas fiscais propostas, incluindo cortes modestos nos gastos sociais, foram rejeitadas por um Congresso rebelde 

sobre o qual Dilma Rousseff - com sua popularidade na casa de um dígito e um enorme escândalo de corrupção que assola sua coalizão - não tem controle. 

Só o Congresso pode desbloquear os cerca de 90% do orçamento que está atualmente trancado,  e poderia ser cortado. A S&P ainda pode motivá-los a fazê-lo.

Então, mais uma vez, parlamentares e ministros (hostis ao aperto de cintos de Levy) podem concluir que mais austeridade é inútil. Não seria a primeira vez.
Fonte: Jornal do Brasil - Economia - Brasil vira 'junk', diz The Economist


Comentários

Assuntos

Questão Brasil - 09/04/2019

Questão Brasil