Reinaldo

Ex-presidente, Fiocca, nega tráfico de influência de Lula em empréstimos do BNDES

Assim como atuais dirigentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o ex-presidente do banco Demian Fiocca negou tráfico de influência do ex-presidente Luiz Inácio da Silva na liberação de investimentos da instituição. Apesar da insistência de deputados da oposição no tema, Fiocca reafirmou o caráter “impessoal e republicano” das decisões do banco, durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura supostas irregularidades em operações da instituição.
Em relação a empréstimos a empreiteiras e a financiamentos a empresas brasileiras para empreendimentos no exterior – como Venezuela, Equador e Angola, por exemplo –, o ex-presidente garantiu que o risco não é alto e que não tem informação sobre eventual default (não pagamento).
O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do BNDES, deputado José Rocha (PR-BA), classificou de “escalada insustentável” o ritmo de empréstimos aprovados pela instituição na gestão do ex-presidente Demian Fiocca (2006 a 2007), que prestou depoimento ao colegiado.
Segundo Rocha, os desembolsos do banco foram de R$ 51,3 bilhões, em 2006, e R$ 64,9 bilhões, em 2007, o que teria obrigado o Tesouro Nacional a intensificar o aporte de capital na instituição. “O senhor não percebeu que era uma escalada insustentável, levando a um beco sem saída”?, perguntou o relator.

CPI do BNDES ouviu o ex-presidente do banco Demian Fiocca
CPI do BNDES ouviu o ex-presidente do banco Demian Fiocca

Fiocca admitiu o aumento dos desembolsos do BNDES, mas rebateu a interpretação de “escalada insustentável”. O ex-presidente justificou esse aumento pela intensificação das ações do banco no fomento à economia. Também lembrou o contexto da crise econômica internacional de 2008, época em que o BNDES foi usado como instrumento de enfrentamento das dificuldades típicas de período de crise.
Ele destacou ainda que o BNDES tem volume de recursos suficientes para atuar sem o Tesouro. No entanto, o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA) lembrou que o Tesouro fez aporte de mais de R$ 400 bilhões para o BNDES entre 2008 e 2014. “Isso ajudou a aprofundar a atual crise fiscal”, completou o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE).
Ex-presidente rebate comentários que associam o BNDES à corrupção
Demian Fiocca classificou de “injustos e equivocados” os comentários que associam o banco à corrupção. Durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura supostas irregularidades em operações da instituição, Fiocca rebateu comentários de deputados da oposição, como Betinho Gomes (PSDB-PE) e João Gualberto (PSDB-PA), para quem os escândalos do mensalão e de corrupção na Petrobras estão interligados e têm relação, mesmo que de forma indireta, com o BNDES, sobretudo pelo financiamento do banco a empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Demian Fiocca negou que tenha filiação partidária e garantiu que a política de financiamentos do BNDES é “impessoal e republicana”, também voltada para a geração de empregos no Brasil. Reafirmou ainda a confiança nos instrumentos de avaliação de risco de crédito e nas garantias oferecidas aos financiamentos. “Para mim, não existe uma percepção de corrupção associada ao BNDES. Isso é injusto e equivocado. Os comentários que ouço são positivos e a reputação do banco é boa”, destacou o ex-presidente.
Fiocca lembrou que deixou o banco há oito anos e retornou nesta semana apenas para se atualizar de dados que pudessem ser alvo de questionamentos na CPI. Ele disse não ter encontrado nenhum ambiente de preocupação diante da investigação. “O banco está seguro da lisura de suas operações”.
Os deputados de oposição citaram ainda matéria do jornal O Globo, de 2014, sobre uma ação da Operação Lava Jato que teria abortado a tentativa da Mare Investimentos, da qual Demian Fiocca é sócio, de assumir o controle acionário da Ecoglobal Ambiental, empresa que chegou a assinar um contrato de R$ 444 milhões com a Petrobras. Segundo a matéria, haveria ligação entre a Ecoglobal, o ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, presos na Lava Jato.
Quanto a esse caso específico, Demian Fiocca frisou que o negócio não foi concretizado e data de período posterior a sua passagem no BNDES.
Mantega
O presidente da CPI, deputado Marcos Rotta (PMDB-AM) anunciou o adiamento do depoimento do ex-presidente do BNDES Guido Mantega, também ex-ministro do Planejamento e da Fazenda. Ele foi convocado para comparecer à comissão, na série de audiências públicas com ex-presidentes do banco. O depoimento estava marcado para a próxima terça-feira (8), mas foi adiado para 29 de setembro, a pedido de Mantega, para acompanhamento do tratamento de quimioterapia da esposa.
O relator da comissão, deputado José Rocha (PR-BA), também anunciou que vai abrir mão dos depoimentos de alguns diretores do BNDES inicialmente convocados. A intenção de Rocha é focar as investigações para acelerar os trabalhos da comissão.

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Questão Brasil - 09/04/2019

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