Reinaldo

Atlético-MG 1 x 0 Joinville ~ Campeonato Brasileiro 2015


Não
houve comoção, ninguém derramou rios de lagrimas ou se descabelou a procura de
um culpado pela derrota que já parecia eminente desde a expulsão de Neymar
contra a Colômbia. Demitir o treinador por deficiência técnica não seria um
absurdo, mas é preciso reconhecer que essa seria apenas uma solução paliativa
para o problema crônico que o futebol brasileiro tem.

Dunga
prega aos quatro ventos que as injustiças que a imprensa aplica a certos
jogadores, se confunde um pouco com o que ocorreu com ele no período em que ele
próprio era sinônimo de mediocridade com a camisa amarela, o treinador não se
cansa de repetir isso sempre que o resultado não é o esperado por ele, mas ao
contrário do que o treinador tenta passar nestas situações, ninguém anda
criando expectativas de jogos espetaculares ou de vitórias acachapantes.

O tom
ameno nas críticas, após a derrota para o Paraguai, deixou claro que até os
críticos mais ferrenhos do jeito Dunga de ser não esperavam outro resultado que
não fosse a eliminação da competição. Muitos jornalistas de diversos veículos
de mídia pareciam conformados com a mediocridade do futebol apresentado pelos
coadjuvantes de Neymar, tanto que passaram a tratar a partida contra o Paraguai
como tábua de salvação da Seleção nas eliminatórias, pois a classificação para
as semifinais da Copa América daria a Neymar o direito de iniciar com o grupo
as eliminatórias da Copa do Mundo de 2018. Nem isso foi possível de realizar,
tamanha a inércia dos comandados de Dunga que até se apegou na desculpa de que
os atletas estavam debilitados por uma virose.

Tiago
Silva então passa a ser um símbolo da total falta de controle deste
selecionado, seja emocional, seja físico, já que ele contesta o porquê do
arbitro ter marcado aquele pênalti que possibilitou ao Paraguai a chance de
conquistar o empate no tempo regulamentar, o zagueiro brasileiro que já havia
sido questionado por sua falta de controle emocional na Copa do Mundo, agora se
torna emblema de um grupo fadado ao fracasso. E olha que ele é apontado pela
mídia mundial como o melhor mundo em sua posição, imagina se não fosse.

As
eliminações da seleção brasileira estão caindo no lugar comum, tão comum que
não despertam mais sentimento de indignação por parte do torcedor, ninguém se
revolta com a forma pela qual se deu a eliminação ou a displicência com que
determinados atletas atuaram. E esta acomodação parece já ter atingido os
profissionais de imprensa, pois a maioria dos críticos pegou leve nas cobranças
e alguns até deram desculpas pelo treinador, afim de justificar o fracasso em
solo chileno.

Teria
Marcelo sido mais útil do que Felipe Luís, na Copa do Mundo foi o inverso,
jogou Marcelo e muitos cobravam de Felipão a convocação de Felipe. No meio de
campo do Brasil, Luís Gustavo fez mesmo falta ou não teria conseguido evitar o
fiasco. Sem desmerecer ninguém, mas também sem a intenção de absolver quem quer
que seja, podemos concluir que o Brasil viu ressurgir o complexo de vira-lata,
tão bem explicado e combatido antes do primeiro título mundial pelo escritor
Nelson Rodrigues.

Uma
partida da seleção em uma competição oficial já não mobiliza mais os
brasileiros como antes, um jogo envolvendo o escrete canarinho já não
monopoliza mais as atenções como antes e o pior de tudo é que nem o mais
fanático dos torcedores brasileiros consegue dizer sem pensar muito qual é a
escalação do time titular de Dunga na Copa América. Quer maior prova da falta
de interesse do torcedor do que essa?

Pois
é, e tem prova maior sim.

Depois
daqueles 7 a 1, aplicados pela Alemanha na Copa do Mundo, o brasileiro perdeu a
sua identificação com a amarelinha, o torcedor de futebol não se vê
representado ou não sente mais fazendo parte da seleção que representa a CBF.
Aquela goleada acachapante que sofremos serviu para detonar o sentimento de
derrota da Copa de 1950, mas também serviu para equacionar a imagem de
perdedores que tomou conta da nação.
  
Temos
sim grandes jogadores, quase todos estão vestindo as camisas dos maiores clubes
do mundo, ganhando verdadeiras fortunas e é bom que fique claro o destaque e
brilho intenso que conquistaram por lá. Tirando um ou outro jogador, quase
todos são titulares em equipes de ponta na Europa, mas não são o craque
incontestável de seus times. Isso cabe também para Neymar, o maior expoente da
seleção brasileira nos últimos anos é apenas coadjuvante do argentino Lionel
Messi no poderoso Barcelona da Espanha.

Talvez
esta seja a melhor definição para os nossos atletas e nossa seleção,
coadjuvante, pois a muito tempo deixamos de ocupar o papel de protagonista no
cenário mundial. Ainda temos talento para brilhar pelo mundo, mas estamos
perdendo a capacidade de sermos decisivos ao ponto de termos craques incontestáveis
em qualquer clube do planeta, isso acaba por ter reflexos na própria seleção
que aos poucos vai perdendo a confiança de seu mais fiel torcedor.

Tomara
que seja só uma fase, não uma entressafra de talentos ou mais uma geração
perdida do nosso futebol.

Tomara.



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Questão Brasil - 09/04/2019

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